quarta-feira, 27 de junho de 2012

Conto Sem Título #2


Se não me falha a memória, o calendário anunciava meu aniversário. Sim, agora parando para pensar, era exatamente o dia em que mais um ano se somaria à minha idade. Grande coisa. A manhã coberta por uma camada grossa de neblina anunciava um dia obscuro, não podendo ser mais adequado o clima. Peguei o telefone, disquei uma conhecida – para mim - seqüência de números. Nove. Nove. Cinco. Quatro. Sete. Zero. Sete. Cinco. Quando a voz do outro lado da linha saudou, meu coração disparou.

- Alô?!
- Bom dia, quem fala?
- Beto! Você sabe quem fala... – Sua voz carregava um ar de desaprovação. Embora o tom de brincadeira fosse perceptível também.
- Sim, eu sei. Liguei pra perguntar como cê tá. Já faz tanto tempo... – Fazia tempo pra caralho mesmo, ou parecia fazer, pelo menos pra mim. Ah, sim, me desculpem o palavrão.
- Tô bem. – Falou com um animo especial na voz. Aquilo me irritou, não nego. – E você? 
- Ótimo. Tô ótimo. – Não, eu não estava ótimo. Meus olhos estavam inchados por culpa das noites mal dormidas. Estava trabalhando demais. O salário mal dava pra pagar as contas e quase nem me sobravam mais uns putos pro cigarro. Parei de fumar na marra. Deixei a cerveja de lado, pois o inverno chegara. Atualmente, café era meu companheiro. Mais quente. E mais barato também.
- Hm, bom.
- Sim. Legal que você tá bem.
- Legal mesmo.

E eu poderia ter desligado o telefone. Afinal, era perceptível que ela não estava com vontade de falar comigo. Assim, teria matado um pouco da saudade ouvindo a voz dela e teria terminado por ali mesmo o meu tormento. Mas não. Parece que eu gosto de me fazer sofrer, às vezes. Permanecemos mais alguns minutos calados, sem qualquer esboço de interesse da garota em falar comigo. Impaciente, soltei sem nem pensar no que dizia:

- Quero ver você, Liz. Tô precisando... – Putz, que merda que eu falei?

O que mais me matou foi ter que esperar uma resposta. No minuto seguinte, que mais parecia um milênio, mil coisas se passaram na minha cabeça e o pensamento fixo foi: por que eu sou tão babaca?

- Eu queria ver você também... – Meu sorriso abriu de orelha a orelha. – Mas não posso. Tô namorando. – O silencio tomou conta.

Murmurei qualquer coisa sem sentido e desliguei o telefone. Ela não fez questão de explicar qualquer coisa, nem sei por que eu esperaria que ela o fizesse. Em seu lugar, nem teria atendido o meu telefonema, mas Liz sempre foi diferente de mim. Ela sempre fora uma pessoa melhor que eu, em todos os aspectos.

Deitei na cama, os pensamentos absortos. Fazia dois meses que eu não falava com Liz. Dois meses sem vê-la ou sequer ouvir sua voz. Esperava que a saudade pudesse, sei lá, tê-la mostrado que mesmo eu sento um babaca estúpido eu era um babaca estúpido que sempre a amara de alguma forma, mas que nunca percebera o quão especial ela era de fato. Um babaca estúpido que só se deu conta da menina maravilhosa que tinha após perdê-la. É engraçado pensar que a perdi, sem nunca ter tido ela de verdade. Isso tudo porque eu fui um babaca estúpido. Mas, de uma forma ou de outra, é bem feito pra mim. Mas que tá doendo pra caralho, isso tá.

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