Talvez sim, talvez não,
nunca saberei ao certo, mas suponho que o acontecido do capítulo anterior me
deixou com o coração em frangalhos e com o psicológico totalmente abalado.
Fiquei tão mal que perdi a fome, o sono e a vontade de viver. Parece drama
mexicano, eu sei, mas eu nunca tinha amado alguém de verdade e só me dei conta
de que Liz era a única garota que fazia meu coração disparar depois de vê-la
cansar de lutar por mim e desistir de vez. E ela é do tipo que quando desiste,
não tem volta, desiste mesmo. Uma pena eu ter sido tão idiota. Enfim... Este
sou eu desviando do foco novamente. Eu disse que aconteceria com freqüência.
Depois deste episódio onde
Liz, a protagonista do meu coração, me deixa de cama sem estar doente – era só
amor mesmo – eu entro em colapso e a única solução que minha família vê é me
jogar dentro da sala de um psicólogo.
Quando me sentei naquela
cadeira branca pela primeira vez – há uns dois anos – eu senti minha
perna formigar. Fazia muito tempo que eu não ia para algum lugar diferente da
rota diária casa-trabalho-casa e esse era meu organismo alertando que era
encrenca. Tentei ser o mais normal possível, embora o meu normal não seja
normal. Mostrei os dentes, tentando sorrir às vezes, mas eu parecia mais com um
cão faminto. Acho que isso assustou o doutor, visto que sua cadeira – a
princípio, perto de mim – foi tomando distância gradativamente. Fingi que não
notei nada de estranho, continuei com uma encenação boba, mas não consegui
levar muito a diante. Ao longo desse longo tempo em que venho me consultando
com Júlio, o psicólogo, notei que esta classe tem suas peculiaridades. Uma
delas, talvez a mais notável, é sua grandessíssima paixão por listas. Isto é,
já na primeira consulta fui inquirido sobre o que afligia meu interior, e
adivinhem só como eu deveria expor meus sentimentos? Isso mesmo: em uma lista.
Lá pela quinta sessão, quando a relação paciente-doutor já estava mais sólida por assim
dizer, tive que fazer outra lista, dessa vez sobre meus sonhos. Depois destas,
muitas outras vieram: nomes de pessoas importantes, medos, traumas, sonhos
realizados, essas coisas. Nenhuma, de fato, me ajudou. Mas como dizem: “o que
vale é a intenção”, certo? Mas não por 300 reais à hora...
Enfim, voltando ao
assunto... Este documento foi criado por ordem do Júlio. O tal das listas. Ele
disse que eu tinha que colocar meus pensamentos em uma folha. Pois aqui estão
alguns deles. Júlio disse, também, que eu deveria datar tudo o que escrevo,
guardar, e depois de algum tempo voltar a ler. Disse que é normal que eu
perceba uma mudança para melhor e que se isso não acontecer, eu devo me
preocupar. Preocupado estou com minhas finanças, mas isso não vem ao caso. Quer
dizer, vem sim, agora que já expliquei como fui parar num psicólogo e,
conseqüentemente, o que me “motivou” a escrever isso aqui, eu posso entrar de
vez no projeto e escrever sobre o que penso e sinto, essas coisas. Não garanto
a ninguém que sairão boas coisas daqui, mas vou tentar dar o meu melhor.
Afinal, eu quero melhorar. Mas se tem uma coisa que eu quero mais ainda, é Liz.
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